quarta-feira, 15 de maio de 2013

A experiência do Rio de Janeiro na gestão de suas unidades de conservação.



De olho em experiências bem-sucedidas de países como Estados Unidos, África do Sul e Argentina, o Estado do Rio começa a tirar do papel uma força-tarefa em defesa de suas áreas verdes. Entre engenheiros, biólogos, geógrafos e jovens que ainda não venceram a graduação, um exército de 110 pessoas já está em campo — e com formação específica — para fortalecer a proteção da biodiversidade. A jornada semanal dessa turma, de 40 horas, rende a cada um R$ 1.500 ao fim do mês. A área de atuação do novo serviço estadual de guardas-parques é vasta em todos os sentidos: até julho, todos os 280 fiscais, 220 concursados pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e 60 cedidos pelo Corpo de Bombeiros, estarão treinados para atuar em 204 mil hectares, em ações de combate a incêndios e desmatamentos, ordenamento urbano, educação ambiental e apoio às pesquisas científicas.
Do extremo sul ao extremo norte do estado, cada uma das 12 unidades de proteção integral, aquelas que não permitem edificações, terão ao menos seis fiscais. Entre elas, os parques da Pedra Branca (Rio), dos Três Picos (Região Serrana) e da Serra da Tiririca (Niterói). Também foram destinados R$ 8 milhões para a compra de veículos, uniformes e equipamentos. De acordo com o Inea, foram adquiridos, em média, um veículo para cada dez guardas-parques. O financiamento veio de compensação ambiental do Porto Açu, do empresário Eike Batista.
Bianca Masi, de 27 anos, percorre, a pé ou dirigindo uma possante caminhonete, os trechos do Parque Estadual da Costa do Sol. Ela e outros 30 colegas são responsáveis por dar conta de uma área que corta seis cidades da Região dos Lagos — de Saquarema a Búzios — e soma quase três Florestas da Tijuca. Graduada em geografia e especializada em técnicas de segurança do trabalho, a jovem conta que decidiu fazer o concurso para proteger o “quintal de casa”: o bairro do Peró, em Cabo Frio.
— Foi para tentar ajudar a melhorar as coisas que decidi ser guarda-parque. Pretendo voltar a dar aulas de geografia, mas nos últimos meses estive focada no trabalho de guarda — afirma Bianca, contratada por três anos, com possibilidade de renovação por mais dois.
O guarda Daniel Lopes, de 32 anos, também fiscal do parque, neste sábado dedicava-se à pesquisa de capacidade de carga da Praia das Conchas, em Cabo Frio. O trabalho tem como objetivo mapear a área e cruzar informações, como quantitativo e renda média dos visitantes. A praia faz parte do Parque da Costa do Sol. Com base nesses dados, será possível padronizar o funcionamento dos 18 quiosques do local. A equipe também promete constranger a atividade dos flanelinhas, que chegam a cobrar R$ 15 por carro estacionado na vegetação de restinga.
— Estou aqui por ideologia — diz Lopes. — Já vinha de um ativismo ambiental de 16 anos. Pensei que era hora de parar de reclamar e passar para o outro lado do balcão.
A seleção dos guardas-parques incluiu provas teóricas e práticas, além de uma fase classificatória que levou em conta a formação anterior dos candidatos em itens como primeiros socorros e informações sobre animais peçonhentos, além do conhecimento de línguas estrangeiras. Entusiasta do projeto, o diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Inea, André Ilha, aposta no diálogo dos guardas com a sociedade para desenvolver uma cultura de desenvolvimento sustentável.
— Diversos países têm uma longa tradição com os seus serviços de guardas-parques, como Estados Unidos, Canadá, Quênia, Chile e Argentina. Mas, no Brasil, não tínhamos iniciativas desse tipo. Um estudo do Banco Mundial mostrou que o fator individual mais importante para a adequada gestão de uma área protegida é a presença de pessoal no campo, uniformizado e treinado. Para estimular o ingresso de moradores da região, fizemos nosso concurso por unidade de conservação, o que provou ser uma decisão acertada — comenta Ilha, prevendo uma revolução na gestão de parques e reservas estaduais.
De acordo com o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, a atuação desses profissionais será fundamental para que o estado atinja a meta de quadruplicar o número de visitantes dos parques estaduais nos próximos quatro anos:
— Não basta criar parque no papel. Precisamos ter equipamentos, segurança e orientação aos visitantes. A meta é passar de 250 mil para um milhão de visitantes em quatro anos. O guarda-parque não anda armado. A principal função dele é garantir o bom uso do parque.
Para driblar eventuais retrocessos do projeto, em função do baixo salário, o Inea aposta em gratificações por metas. Se as metas forem cumpridas, cada guarda-parque levará para casa R$ 4 mil a mais por ano.

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